A queda do Cuiabá para a Série “B” encerrou um ciclo de participação do clube na elite do futebol nacional, fato este que já se prenunciava desde os primeiros momentos do Brasileirão. Em meados do Século passado o americano Edward Murphy criou uma teoria que ficou conhecida no mundo todo e se restringe ao seguinte fato: “tudo que começa errado tende a terminar errado”. No caso específico do Cuiabá aconteceu exatamente o que pregou Murphy.
Os torcedores e apoiadores do futebol de Mato Grosso devem estar lembrados que, no inicio do campeonato, o Cuiabá não tinha sequer um treinador e contava com um grupo de jogadores limitadíssimo, tanto na quantidade quanto na qualidade futebolística.
E, para complicar, foi se desfazendo dos melhores que estavam em suas fileiras, como: o goleiro João Carlos; os zagueiros Anderson Conceição e João Leite, a jovem promessa Rikelme, o meia Raniele, o atacante Yuri Castilho e tantos outros, culminando na equivocada briga com o centro avante Deyverson, sua suspensão e posterior venda para o Atlético Mineiro, onde continua brilhando. Para complicar, os que chegaram estavam longe da capacidade de envergar a camiseta de um clube da Serie “A”.
Logo no início do campeonato o time acumulou seis derrotas consecutivas e perdeu totalmente o rumo do Brasileirão, tendo que trazer um técnico Português (Antonio de Oliveira) e depois outro (Petit) que, até tomarem pé da situação, os pontos importantes para a permanência na Série “A” já estavam perdidos e o time totalmente desmotivado e sem forças para reagir.
De lá até o final do campeonato foi uma completa decepção para o torcedor. Um elenco apático, indolente, sem brilho e sem garra, onde seus limitados atletas erravam lances bizarros, davam chutes completamente sem direção e longe do gol, bisonhamente erravam passes de cinco metros de distância e até mesmo cobrança de lateral, que é feito com as mãos. Evidente que tivemos excessões e belas jogadas, mas, todas, raras e de pouco brilho.
Em momento algum o Cuiabá soube usar o mando de campo e, jogando em casa, com o apoio maciço de sua torcida, era uma apatia só. Raramente surgia uma boa jogada ou um bonito gol.
Aliás, fora de Cuiabá o time se portava melhor e ficou com a alcunha de “visitante indigesto”, o que não se repetia em seus domínios e no excelente gramado da Arena. Outro aspecto fundamental, além do time ruim, foi a constante mudança de preço nos ingressos e, nos jogos contra times grandes do país, o valor da entrada atingia patamares inimagináveis para o torcedor mato-grossense.
A prova maior foi a partida contra o Flamengo quando a Arena Pantanal recebeu pouco mais de doze mil torcedores e, na sua maioria flamenguistas fanáticos que vieram do interior. Nesse jogo o estádio estava praticamente vazio, pois, os cuiabanos, assim como este escriba, além de não aguentarem o alto preço da entrada (R$ 250,00) já sabiam que o time local estava sem chance de permanecer na Série “A”.
Agora, rebaixado, o nosso querido Cuiabá vai ter que “juntar os cacos”, ou seja, recomeçar tudo de novo para, quem sabe, um dia retornar à elite do futebol brasileiro. Tomara que seus dirigentes, aliás, seu único diretor, escolham os atletas da base, os egressos da escolinha da Beira Rio e formem, com a garotada local, inclusive dos bairros da Capital, uma nova equipe.
Mesmo porque os figurões de fora não fizeram e não fazem nada melhor do que um garoto daqui, que quer se projetar e se tornar um Igor Jesus da vida. Importante registrar que, diferente de outros Estados da federação em que o rebaixamento de seus representantes geram pichações, quebra-quebra, depredações e outras formas de protestos, aqui em nossa Capital nenhum “piu”, nenhuma manifestação, nenhum BO.
Que esse silêncio e a péssima campanha do time (último colocado) sirvam de exemplo ao clube e seus responsáveis e que passem a olhar as coisas da casa com maior carinho e planejamento.
Que, na Serie “B” o time apresente tudo diferente do que fez neste último campeonato, ou seja: um bom time, com garra, força, vontade de ganhar e lutando sempre. Oxalá não aconteça com o nosso futebol o mesmo que no vizinho Estado de Mato Grosso do Sul.
Paulo de Brito Candido é advogado.
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