Quatro crianças indígenas da etnia Xavante foram agredidas com cordas por um homem, identificado como pastor Delmir Magalhães, no município de Pontal do Araguaia (MT), a 405 quilômetros de Cuiabá. De acordo com o Boletim de Ocorrência (BO), as agressões ocorreram após os meninos pegarem alimentos na casa do suspeito.
O caso foi denunciado pela mãe das crianças na Delegacia Especializada de Roubos e Furtos, do município de Barra do Garças (MT). A CENARIUM teve acesso a vídeos, nos quais mostram as vítimas sentadas em uma calçada, sem camisa e com hematomas pelo corpo. Nas imagens, o pai, que não teve o nome divulgado, mostra as quatro crianças feridas na região da costela, dos braços e até no rosto.
“Oh, bateu de chicote, bateu também no meu caçulinha, quase furou a costela dele. Da irmã também, olha o rosto dela”, disse.
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Em um outro vídeo, a mãe das vítimas, identificada como Maria Auxiliadora Wautomoda Wari Ubdi, é filmada nas proximidades de uma oficina de lanternagem e pintura. Ela afirma que os filhos dela confirmaram que agressões teria acontecido neste local.
“Gente, foi bem aqui, os meninos disseram que eles apanharam foi bem aqui. Os meninos disseram, o Jhon Markley, Mara, Márcio e o Marcu, eles disseram que foi bem aqui. E eles estão bem machucados”, relata a mãe.
Em outro vídeo, o suspeito, quando questionado pelos pais das crianças, afirma não ter sido ele o autor das agressões. Veja o diálogo:
Pai: “Foi você quem bateu neles?”
Suspeito: “Não, foi outro cara que bateu.”
Pai: “Não foi chicotada?”
Suspeito: “Não, não, não.”
Pai: “Então, está bom. Tudo bem, nós vamos provar.”
Em seguida, o pai das vítimas mostra para o suspeito os hematomas no corpo das crianças. De acordo com o vídeo, o homem é um pastor.
Pai: “Olha o meu caçula, seu palhação.”
Suspeito: “Não, foi outro cara”
Pai: “Que outro cara? Fala a verdade, não fica mentindo, não. Você é crente, você é pastor.”
Pai: “Então, por que você bateu?”
Suspeito: “Não foi eu, não.”
Pai: “Foi você mesmo, foi você [que deu] chicotadas no laço.”
Suspeito: “Não pus a mão não (se referindo as crianças), foi outro cara.”
Na sequência, duas crianças foram questionadas por uma pessoa que estava gravando o diálogo com o suspeito. “Quem bateu?“, pergunta. Uma das crianças respondem apontando para o homem: “Foi ele“, afirma. O pastor segue negando as agressões.
Falta de suporte
Segundo a jornalista Mara Barreto Sinhowawe Xavante, os indígenas da região estão desassistidos pelo governo do Estado. “A minha revolta é de não ter assistência e políticas públicas. Não tem nada para nós, incentivos, nada. Nós não temos saneamento básico, não temos nada“, disse.
A jornalista afirmou, ainda, que a violência sofrida pelas crianças indígenas é reflexo da ausência de políticas públicas voltadas para os povos originários da região. “Nós sofremos tanta injustiça aqui e as consequências estão aí, como eu já sabia, que a miséria é se multiplicar dentro dos territórios e a consequência está aí. Isso aí é um problema social. Isso aí é uma violência social. É falta de, como eu falei, de ações públicas, é falta de um trabalho também de conscientização, porque não tem, a gente passa muito preconceito”, declarou.
A CENARIUM entrou em contato com o número disponibilizado na oficina onde as agressões teriam ocorrido. Até o momento não houve retorno. A reportagem também pediu esclarecimento do governo do Estado sobre as ações voltadas aos povos indígenas da região. O espaço segue aberto.
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