Muito se falou e se escreveu sobre o EduMotivação, desde o primeiro EduMotivação realizado no Polo de Cuiabá com a presença da produtora cultural, influenciadora e DJ de 14 anos, nascida na Noruega e do medalhista, Robson Caetano, ambos trouxeram o seu sucesso ‘pessoal’ para dizer venci, então, é só se esforçarem que vocês também irão vencer. Todavia, aprendamos com Sandel: “Este é um fardo pesado para pessoas jovens carregarem. Além disso, corrói sensibilidades cívicas, porque quanto mais pensarmos em nós como pessoas que vencem pelo próprio esforço e são autossuficientes, mais difícil será aprender a ter gratidão e humildade, E sem esses sentimentos é difícil se importar com o bem comum”. (in a Tirania do Mérito, Michael J. Sandel, p-23).
Já, na programação do segundo EduMotivação, realizada com a DRE de Várzea Grande, teve a presença do comediante de ‘Stand ap’ mineiro que dançou na ’boquinha da garrafa’ e vaticinou que estresse é falta de sexo. Na ocasião arrancou risadas e suspiros de muitos presentes.
Mas, tudo isso é periférico, o que importa mesmo, é compreender que o governo tem pelo menos dois motivos no momento. Um dos motivos é atender empresários focados nos recursos públicos da educação, que trazem receituários à gestão como elemento essencial para a melhoria do desempenho de alunos nas avaliações externas, isolados das variáveis que inexoravelmente afetam a educação.
O novo Fundeb ao vincular mais recursos a partir da melhoria nos índices de desempenho do IDEB, aumentou a pressão sobre a gestão escolar e a gana dos mercadores da educação. A escola é tratada como empresa e tem metas a atingir independente das condições para tal e a não consecução do ‘alto’ desempenho incorre na substituição do gestor e troca da equipe escolar. Faz-se o ‘rodízio de direção’, como temos visto acontecer em escolas públicas do Estado de Mato Grosso.
Essa fórmula, a de ‘rodízio’, desenha o insucesso gerencial do ‘negócio’ e justifica as ações dos governos da direita radical, onde o professor perde a autonomia do seu planejamento e da avaliação sendo obrigado a aplicar inúmeras avaliações externas, a usar apostilas com qualidade duvidosa, a cumprir cronogramas e instruções de institutos e fundações diversas, que ganham milhões de reais de recursos da educação pública em detrimento do investimento na formação dos educadores locais que objetivamente opera seu ofício.
Por isso, não basta ironizar os personagens do EduMotivação, que ganham dinheiro falando igual para os diferentes, cumprindo o que lhes foi encomendado. Os participantes, alguns ignorando, na melhor das hipóteses, os métodos e objetivos do governo, outros sem refletir com mais profundidade sobre os eventos, seguem validando as ações do governo.
É preciso fazer indagações sobre a quem serve essas ações para que consciente e intencionalmente haja engajamento coletivo dos educadores na formulação de proposta afirmativa de poder e educação referenciada para o Estado de Mato Grosso.
O outro motivo para a realização do EduMotivação, reside na disputa política partidária e, neste caso, na continuidade do atual projeto de governo. Por esse motivo, na abertura do evento, no Polo de Cuiabá, foi convidado o deputado federal Fabio Garcia que atualmente exerce a Chefia e Gabinete da casa civil no Estado e é pré-candidato do grupo, à prefeito de Cuiabá. Em sua fala, Fábio Garcia ressaltou a importância das ações da Seduc para a melhoria dos índices educacionais, afirmando que a área da Educação é uma prioridade no Governo Mauro Mendes. Em suas palavras: “Os investimentos são um fator muito importante nas políticas públicas de progressão, mas a parte mais importante vem dos profissionais da educação, e estou muito orgulhoso com tudo que está sendo realizado na educação de Mato Grosso”, acrescentou. Confusa essa fala, que elogia as ações do governo e ao mesmo tempo afirma ser a parte mais importante aquela que vem dos profissionais da educação.
A presença do deputado, candidato do governador Mauro Mendes a prefeitura de Cuiabá, quando outras forças se apresentam com chances reais de virar o jogo, com certeza não foi mera coincidência e muito menos nobre, como deveria ser a discussão com os profissionais da educação sobre a educação em MT. E, no segundo dia do evento mais um candidato do Grupo do governador. Dessa vez foi o atual prefeito de Várzea Grande que é candidato à reeleição e este, não tendo nada para falar da educação, justificou a crônica falta d’agua no município.
Assim, infere-se assertivamente, que nada é inocente e o tão pouco tem sido executado em nome da melhoria do índice de desenvolvimento escolar, visto que não se avaliou as variáveis que determinam os resultados do SAEB.
Resta-nos agir na contramão de tudo isso, e urgentemente combater a dura ética do sucesso que nos divide. Pontos de partida desiguais é compreensível, porém não são analisadas as condições objetivas da caminhada de todos e de cada um, como determinantes para a chegada é alienação. O sucesso glorioso com certeza não é determinado por mérito pessoal. Por isso, não nos iludamos com concurso de pantufas, gratificação no final do ano ou com dancinhas duvidosas.
Por tudo que aqui foi dito, precisamos reconhecer que “…quando a máquina de triagem meritocrática faz o seu trabalho, quem está no alto acha difícil resistir ao pensamento de que merece o sucesso que tem e quem está na base também merece o lugar onde está…É pouco surpreendente que tenhamos perdido a habilidade de refletir juntos sobre questões públicas e amplas…(ibid P-324).
Por fim, é imperioso refletir. Edumotivação tem apontado como superar o problema de inúmeros estudantes que chegam ao ensino médio com dificuldade para ler e escrever corretamente?
Maria Aparecida Cortez, é funcionária da Educação (técnica administração escolar), direção do Sintep/VG e do Sintep/MT
Fonte: CIDA CORTEZ
